Um evento grandioso e que foi mais uma importante contribuição para pôr Santa Catarina no mapa do país na música independente 100% autoral. Como eu sempre disse, não é de hoje, não é novidade o rock autoral em nosso Estado, mas o que se viu nos dois dias do Floripa Noise Festival, realizado no último fim de semana na capital catarinense, foi uma reunião de pessoas, de bandas, de produtores, jornalistas, sem precedentes para nossa história musical.
Tudo isso foi possível graças ao empenho do pessoal da Insecta Produções, como Eduardo Xuxu, Amexa, Guilherme Zimmer e ao Célula, que está se tornando um ponto de encontro da música autoral no Estado. É praticamente um dos únicos locais que sobrevive inteiramente disso. No primeiro dia, o público pôde presenciar shows antológicos como dos Cochabambas, som instrumental que realiza poucos shows por ai, mas sempre tem o inegável talento de Rodrigo 90 na guitarra e seus comparsas. O Sick, Sick Siners fez um show de primeira, energético, pulsante, veloz. A grande surpresa ficou com Chucro Billyman, que segundo me consta, deixou a manezada de boca aberta. Cassim e Barbária também foi o diferencial. Onde todo mundo pensa que Cassim iria galgar o mais puro folk, influência clara do seu grupo The Bad Folks, encontrou um ar misterioso, pisando em influências do soul e do iníciozinho da música eletrônica.
No segundo dia, coube aos meninos e menina do Parachamas abrir a festa. 47´s de extrema genuinidade, a turma de Alexandre M. fez um show redondo, perfeito, impressionando a galera com o poderoso trio de metais, melodias trabalhadas e a energia dessa gurizada que Mundo47 adora. Mesmo sem o segundo guitarrista, que saiu da banda na última semana, esses caras fizeram sua estréia em Floripa com louvor. Em seguida, a grata e prazerosa presença do Stuart. Mesmo morando em São Paulo, Kaly, Magola, Cristiano e Dani, demonstram no palco o verdadeiro sentimento rock and roll que rola há tempos no Vale. Mesclando músicas do último disco, lançado há poucas semanas e grandes clássicos, o Stuart ganhou o público com sua sonoridade única.
Em seguida, depois de passar por quatro estados para chegar em Florianópolis, o pessoal do Mato Grosso do Sul, da banda Dimitri Pellz, fez a sua participação e mostrou grande personalidade, boa presença de palco da vocalista, que literalmente gritou suas músicas no rock pesado e vigoroso desse pessoal do Centro-Oeste. Foi uma boa abertura para o que veio depois.
O Euthanasia não subia no palco há um pouco mais de dois anos. Na Célula, segundo os integrantes, a banda estava fazendo talvez a sua derradeira apresentação na capital. Os catarinenses estão se despedindo dos palcos. Existente desde 1992, o Euthanasia é uma marca na música catarinense. Pensou hard-core, pensou Euthanasia. Mancha, Jean, Cauê e Heráclito fizeram o show mais pesado do FNF e não decepcionaram a galera. Até 31 de dezembro, Mancha avisa que o que pintar de show, a Euthanasia vai para se despedir do povo. Um dos últimos acontecerá no Tschumistock, em Novembro. Depois rolou a apresentação doida varrida dos Ambervisions. Zimmer e Amexa, parceiros de insecta e da banda, se juntam a Marcio e ao tradicional baixista dos Ambervisions, Arioli, para apresentação expliva do FNF. Os Ambervisions já são presença constante em festivais, principalmente nos organizados pela Monstro Disco. Arrasaram.
O festival foi encerrado tarde da noite por Daniel Beleza e Os Corações em Fúria. Bizarros no palco e muito competentes no que fazem, Daniel é o showman absoluto da apresentação. Depois de executar suas principais músicas, Daniel encerrou o Floripa Noise com Ramones e The Stooges.
Fora do palco, o FNF foi um importante ponto de encontro de vários músicos, produtores, jornalistas. No andar superior da Célula, Gurcius e Daniel Villa-Verde coordenavam a feirinha com venda de discos das bandas, DVDs dos mais variados tipos e livros. No telão, bem, no telão, uma aula de anatomia humana com os filmes doidões que só o Zimmer tem em casa. O que deu para sentir falta, foram dos mais variados associados do Clube da Luta, que praticamente não apareceram no segundo dia. Apenas no primeiro o Clube esteve representado pelo poderoso Kratera.
Florianópolis precisava muito estar dentro de um circuito dos festivais independentes. Faltava o seu. Precisou algumas peças serem mexidas para que a coisa viesse à tona no cenário rock. Claro que pela sua importância, o primeiro festival não pôde contemplar algumas bandas locais, mas vale ressaltar que muitas outras bandas ficaram de fora. Não podemos crucificar nínguem pela ausência desse ou daquele. O FNF veio para ficar e tem tudo para ser mais um importante espaço para o independente nacional. Basta a continuidade do trabalho e a presença do público. Que venha 2009, que venha mais um FNF