Agora com mais calma, eu posso falar um pouco sobre o Mundo47 Festival. Como organizador do show, sempre é complicado falar sobre todos os shows, pois não conseguir ver todos com devida calma. Horas antes do início do festival, o dilúvio que caiu sobre Santa Catarina, me fez tremer nas bases. Ao buscar o Autoramas em Floripa, vendo que aquela chuva e vento não paravam mais, pensei que ia miar tudo. Pior ainda foi saber ainda em Floripa, no sábado a noite, a banda não havia subido no palco por pura sacanagem – porquê para mim a situação foi uma sacanagem – com o pessoal da Célula, na capital.
Ai veio o início do Mundo47 Festival e a chuva forte que prejudicou a estrutura do JB, em cima do palco. A montagem do som foi complicada, pois a decisão de dividir o palco com imensas latas plásticas de lixo não era o objetivo, mas graças a persistência do pessoal do JB, a banda Incolores começou a roncar o róque and rou por volta das 18 horas. O público ia chegando timidamente ao JB e já na segunda banda, Os Parachamas, a casa estava cheia. Muito bom para um final de semana com chuvas. Na realidade, como promotor do evento, as chuvas atrapalharam, mas não foi motivo para a festa ser pior. A grande surpresa mesmo foi a vinda do público de fora de Balneário Camboriú. Gente de Joinville, Blumenau, Jaraguá, Rio do Sul, Brusque, Curitiba e até mesmo alguns 48 de Florianópolis deram o ar da sua graça no evento. Já o público local, de BC, ficou com medo da chuva, somente heróis do rock apareceram por lá.
Na terça-feira foi foda ouvir de algumas bocas locais, que o JB é muito longe (só atravessar o morro da barra norte) e que a chuva foi motivo da “não” ida até o bar. Na boa, a desculpa não cola muito, pois quem quer, quer e vai. Voltando ao róque, que é o que me interessa, consegui assistir a apresentação dos Parachamas. Fantástico. A turma de Blumenau faz um excelente show e atrai cada vez mais público cativo em suas apresentações. A mistura de ska, rock, punk, bandinha alemã, prosit music e indie rock, tem muito de importante para o róque catarina. Esta que vive um excelente momento em 2008. Estamos no ano catarina do rock, sem sombra de dúvidas.
A apresentação dos Lenzi Brothers eu vi pingado. Na primeira parte, aquela potência máxima ao som de “Flutuar”, do novo disco. Em maio eles estão com novo disco na praça e será uma bomba atrás da o utra. Abandonando a pegada do blues e diluindo o nitro todo da guitarra de Marzio no rock and roll. Simplesmente bom e fantasticamente rock. Dai tive que vazar para buscar o Autoramas. Perdi o resto do show dos Lenzi que só peguei o finalzinho.
Mesmo com o piso molhado, o Autoramas teve que colocar pneus biscoito e regular o carro para a pista molhada. Flavinha, nova baixista que estava no seu quinto ou sexto show com a dupla Bacalhau e Gabriel Thomaz, disse que a banda estava fazendo seu primeiro show “aquático”. Mas nenhum dos percalços foi problema para a máquina “wrock” do Autoramas. Com um repertório apoiado no disco novo, Teletransporte, a banda não esqueceu dos seus 10 anos de carreira onde apresentou a nata da nata da sua discografia, a mesma que está disponível totalmente na página da Trama. Na platéia, o público se deliciava e delirava com tantos riffs da guitarra nervosa e melódica de Gabriel, a cadência automática e definitva de Bacalhau na batera e Flavinha, fazendo seu debut em SC, mostrando todo seu carisma e competência nas quatro cordas graves. Um show inesquecível de todas as formas, por seus periféricos problemas climáticos, até a performance incrível do trio carioca. Ficou na história do MUndo47.
Marquinhos Espíndola da a sua versão dos fatos
Convidado especial para o comando das carrapetas malditas na discotecagem do Mundo47 Festival, o jornalista e chefe mor do espaço Contracapa – Diário Catarinense – dá a sua versão dos fatos rock and roll daquela fria, chuva e delirante noite no JB Pub.
O sermão do rock
Bem-aventurados aqueles que estão preparados quando a sua fé no rock é posta à prova. E bem-aventurados aquelas quase duas centenas de pessoas que não se intimidaram com a chuva torrencial, e muito menos com o vento insistente, do último domingo e se fizeram presentes para aquecer o clima na primeira edição do Mundo 47 Festival. E acredito que fomos muito bem recompensados pelo belo passeio roqueiro guiado por Incolores, Parachamas, Lenzi Brothers e Autoramas, que conseguiu tocar em Santa Catarina, depois do pesadelo da noite anterior com o cancelamento do show em Floripa, por conta da interdição inesperada da Célula Cultural. No final de semana onde tudo parecia conspirar contra o rock, encontramos a redenção no palco castigado por uma xarope goteira do JB Pub!
Corta a cena: há que se ressaltar que não é novidade para ninguém que, na área 48, o rock e a música autoral vivem sob a intensa “cruzada” (no seu sentido bíblico e vil mesmo do termo) por cartéis de natureza obscura – e isso não é teoria da conspiração!
Ação: então voltamos nosso redentor festival. Rafa Weiss e seus comparsas podem e devem se orgulhar do feito. Aquela investida somada a outras belas sacadas da militância independente da área, como o coletivo Válvula Rock e Barba Ruiva, tornam a região o mais produtivo e seguro reduto para a proliferação do cenário musical neste estado, no momento. Aliás, o mesmo vale para o Oeste.
Eu sabia que não estava errado quanto ao som do quarteto Incolores. A banda de Jaraguá do Sul, que eu só conhecia pelo Myspace, mas que me fora recomendada pelo Weiss, é uma das boas razões para ter saído de casa naquele domingo broxante. Um show orgânico, melódico, cadenciado e estimulante.
Parachamas, de Blumenau: outra boa surpresa. Podem até me chamar de dissimulado, mas aquela irreverente carga sonora tinha mais de autenticidade punk do que a aceleração rrrrock da atração nacional da noite, o trio Autoramas, do Rio (ainda assim responsável por um grande show). A desfaçatez com o ego deixa a coisa toda tão livre e reverberante. E o peso não vem dos braços, mas dos pulmões. O trompete foi muito bem sacado e deu até para improvisar uma “nanoocktoberfest”.
Então veio ao palco, aquela que foi para mim, a banda da noite: Lenzi Brothers, de Balneário Camboriú. Simplesmente acachapante. Não entrarei em detalhes porque considero um prêmio aos preguiçosos compartilhar tamanha paulada. Mas até por consideração aos rapazes da família Lenzi adianto aqui que o novo CD da banda já está aportando, será lançado em maio e, a julgar pelo show que serviu como uma pré-estréia, será foda!!! Aguardem, mas bem feito para quem não foi e bem-aventurados aqueles fiéis crentes do rock!
Ps : Sei não, mas sinto que os roqueiros da Capital estão diante de uma iminente diáspora, a fuga do deserto da mesquinharia, o irônico exílio de Desterro! Como diria o gaúcho:
– Deu pra ti!
Texto: Marcos Espíndola
Fotos: Pry Demarch