A jovem cantora Bárbara Damásio, 21 anos, de Itajaí, subiu ao palco do Teatro Municipal na noite deste domingo para mais uma edição do seu “Bárbara canta Chico”. Quem esteve no Municipal teve a chance de ouvir uma das mais belas vozes da região, que com o tempo e trabalho pode ser destaque em todo país.
Se no repertório de Chico Buarque sobram composições espetaculares e populares que facilitam a escolha do repertório para uma homenagem com garantia de sucesso, certamente não é qualquer artista que consegue interpretá-las com a qualidade que Bárbara o fez.
Além disso, a cantora resolveu fugir das mais convencionais, e claro, não menos brilhantes composições de Chico. Bárbara foi extremamente feliz na escolha das canções. Quem já teve a oportunidade de vê-la cantando há algum tempo e assistiu ao show deste domingo, certamente percebeu o amadurecimento da cantora, que aos poucos vai abandonado o esteriótipo “gritante” das jovens cantoras da MPB – que mais parecem cópias em série de Elis Regina – e assumindo um estilo próprio, “gastando” sua voz na medida certa, o que como uma mera ouvinte de MPB considero raro e o mais difícil de se ouvir.
Os convidados também foram uma escolha acertadíssima. Com uma irreverência e com um estilo mais do que próprio de interpretar a passagem de Chico Preto pelo palco foi veloz, mas marcante. Não só pela interpretação irreverente e divertidíssima em “Biscate”, mas também porque livrou Bárbara do nervosismo aparente do início da apresentação. O mesmo aconteceu com a entrada de Giana Cervi no palco. Giana – que dispensa qualquer comentário – tem uma presença de palco contagiante o que mais uma vez contribuiu para que Bárbara relaxasse.
O que faltou? Na minha visão faltou direção e comunicação com a platéia. As canções poderiam ser melhores distribuídas. Houve uma seqüência relativamente longa de canções mais densas de Chico criando um clima intimista ao extremo em certos momentos e a diversão – com exceção da participação de Chico Preto logo no início – ficou reservada mais para o final da festa.
Se a voz de Bárbara “dá e sobra” para cerca de uma hora e meia de Chico Buarque – que ressalto mais uma vez ser um mérito para qualquer intérprete de renome, ainda mais para uma artista tão jovem – faltou comunicação, com o público e com a própria banda.
A platéia queria Bárbara, pedia por ela, mas a menina pouco falou. Fora alguns tímidos “obrigada”, Bárbara deixou para o final uma fala rápida de agradecimentos, algo mais burocrático, parecia estar temendo uma platéia que – ao menos ao meu redor – era só elogios, mas pedia um pouco mais de atenção. Mas não foi somente a falta de diálogo, o corpo também precisa falar e o de Bárbara estava meio quieto, inseguro, coisas que só o tempo é capa de trazer.
Por isso, considero que apesar da falta desta direção, “Bárbara canta Chico”, foi um espetáculo muito bom, pois no final, a interpretação das canções superou estas falhas e fez com que o público saísse satisfeito e muita gente comentando que ainda queria mais.
Acredito que o mais importante a se falar é que quando Bárbara subiu ao palco neste domingo ela assumiu um compromisso com a platéia. O compromisso de melhorar cada vez mais suas interpretações, de seguir na escolha de um bom repertório e de interagir melhor com o público que tanto a admira. E isto é simplesmente fantástico. Nas raras produções regionais que se vê ultimamente com clássicos da MPB a grande vontade é mesmo de ir para casa e dormir, algo que certamente não aconteceu neste domingo.
Texto: Fabricia Prado – Jornalista
Foto: Guilherme Meneghelli